
A Santa Casa de Campo Grande, hospital referência em Mato Grosso do Sul, atravessa uma grave crise, colocando a vida de dezenas de pacientes em risco. A unidade, superlotada e com estoques zerados, não possui materiais suficientes para realizar cirurgias de emergência, incluindo procedimentos ortopédicos fundamentais. A situação crítica, que já é do conhecimento de diversas autoridades, foi oficialmente denunciada pela direção do hospital à Polícia Civil.
A denúncia, registrada em Boletim de Ocorrência, revela que a falta de insumos e próteses ortopédicas (OPME) impede a realização de cirurgias urgentes e emergenciais. A escassez de materiais, que já persiste há semanas, chegou a um ponto insustentável. A Santa Casa está sem nenhum material disponível para atendimentos de urgência, e a situação afetou não apenas os pacientes internados, mas também aqueles que continuam chegando ao hospital, vítimas de acidentes.
De acordo com o chefe da ortopedia, presente no momento do registro do BO, uma lista de 70 pacientes foi elaborada, todos em situação iminente de morte ou sequelas graves, devido à impossibilidade de realização de cirurgias essenciais. A cada novo acidente, o número de pacientes que precisa de atendimento emergencial aumenta, mas o hospital não tem como oferecer a assistência necessária. “A ortopedia fechou as portas hoje cedo. Colapsou. Não dá mais”, afirmou o chefe da especialidade.
O caos na Santa Casa não se limita à ortopedia. Outras especialidades também sofrem com a escassez de materiais e insumos, comprometendo a realização de outros procedimentos médicos. O problema é resultado de um déficit financeiro mensal crônico, que impede o pagamento a fornecedores e a compra de materiais médicos essenciais. O valor que o município repassa ao hospital é insuficiente para cobrir as despesas operacionais, o que tem gerado uma dívida crescente.
Apesar de o problema ser de conhecimento do Município, do Ministério Público, do CRM, da SES e da SESAU, a situação não tem sido resolvida. Reuniões semanais acontecem, mas na prática, as ações concretas para solucionar a crise são limitadas. Para aqueles que estão na linha de frente, lidando com os pacientes e, frequentemente, tendo que comunicar a familiares que os procedimentos urgentes não serão realizados, a frustração é ainda maior. A pressão é imensa, e muitos médicos e funcionários têm se desesperado diante da gravidade do quadro.
Diante do impasse, a Santa Casa tomou medidas legais. A direção entrou com uma ação judicial de obrigação de fazer, com pedido de tutela antecipada, para garantir o repasse de recursos do Município. Na tarde de terça-feira, 25 de março de 2025, a Justiça determinou que o Município repasse imediatamente a quantia de R$ 46.381.533,60 à instituição, em até 48 horas. Caso o valor não seja transferido dentro do prazo estipulado, o erário municipal poderá ser sequestrado para garantir o pagamento.
A gravidade da situação é incomensurável. A Santa Casa, já há anos em crise, chegou a um ponto crítico onde as vidas dos pacientes estão sendo diretamente afetadas pela falta de recursos. A falta de ação dos poderes públicos coloca em risco a integridade de muitos, que podem sofrer consequências irreparáveis devido à negligência na solução do problema.