Uma aposentada de 57 anos, identificada como Idalina Ferreira Marques, foi morta com um tiro na cabeça no dia 22 de dezembro, no Beco São Geraldo, no bairro Colônia Oliveira Machado, zona Sul de Manaus. Segundo a Polícia Militar, a mulher era conhecida na região por confrontar traficantes e falar de Deus para eles, na tentativa de convertê-los ao evangelho e tirá-los da criminalidade.
Idalina era uma moradora antiga do bairro, onde morou por cerca de 50 anos. Segundo vizinhos da vítima, que preferiram não se identificar com medo de represálias, a mulher aposentava costumava frequentar uma igreja evangélica e, pelas ruas, pregava a palavra de Deus. A mulher também era contra o tráfico e consumo de entorpecentes no beco onde vivia e cuidava sozinha da mãe de 95 anos.
O assassinato da aposentada ocorreu por volta das 18h. Idalina estava chegando em casa quando dois homens a abordaram e efetuaram o tiro que a matou. Segundo o registro de ocorrências do Instituto Médico Legal (IML), a mulher não resistiu a uma hemorragia cerebral ocasionada pelo uso da arma de fogo. O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Homicídios e Sequestros (DEHS).
Irritação
Segundo o subtenente L. Pereira, da 2ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom) da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM), moradores relataram que o fato de Idalina intervir e confrontar os traficantes teria começado a gerar uma irritação por parte dos envolvidos com a venda e consumo de drogas no beco.
“Ela batia de frente com o tráfico de drogas no local, o consumo de drogas aqui também. Ela fechava a passagem [do beco] e, ela, por ser evangélica, tentava converter mesmo [os traficantes] e isso causou uma certa irritação”, declarou o subtenente, na noite dessa terça-feira, 22, durante entrevista à imprensa.
Os suspeitos de cometerem o crime ainda não foram identificados. Apesar de haver uma câmera de vigilância em uma casa no local do assassinato, os moradores informaram que elas não funcionam, segundo o subtenente L. Pereira.
Impunidade
Para a delegada Débora Mafra, titular da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM), casos como esses, onde uma mulher é vítima de arma de fogo por defender uma causa, não podem ficar na impunidade. Déboa reitera que, segundo a Constituição Federal, todo mundo tem liberdade de poder falar sobre sua religião.
“Fatos como esses não podem ficar impunes. Que essas pessoas possam ser descobertas, suas identidades reveladas, que possa ter um inquérito policial onde o juiz possa ter a melhor decisão e que não fique sem punição para fatos como esses”, reiterou Débora Mafra.
A delegada reforça ainda que a sociedade não pode desistir de tirar as pessoas do “lado errado” e trazê-las para o “lado certo”, ou seja, tirá-las da criminalidade. “Na verdade, as pessoas têm que respeitar umas as outras. Não é com assassinato que se resolve, não é pingando sangue ou tanta violência dessa forma. Vamos repensar, combater a violência à mulher e qualquer fato de intolerância como foi este”, concluiu a delegada.
Intolerância religiosa no Brasil
No Brasil, a liberdade religiosa é garantida pela Constituição Federal, no artigo 5º, inciso VI. Além disso, o artigo 208 do Código Penal Brasileiro prevê como crime a intolerância religiosa, com punições que vão de um mês a um ano de detenção ou multa. Mesmo assim, de acordo com o Ministério dos Direitos Humanos, esse crime ocorre frequentemente pelo País.
Segundo dados da pasta ministerial, o País teve 506 casos de intolerância religiosa somente em 2018. As principais religiões discriminadas foram a Umbanda (72), Candomblé (47), testemunhas de Jeová (31), matrizes africanas (28) e alguns segmentos evangélicos (23).
Da redação