Não é gasolina, mas o preço do litro de leite tem assustado o consumidor nas últimas semanas, principalmente os comerciantes, que repassam o produto para o consumidor. O litro do leite de caixinha (UHT), que é o longa vida, em alguns supermercados, ultrapassa os R$ 5,00, em patamar considerado histórico ao consumidor final e com alerta de mais alta, pois o pico de preços vai até agosto.

Considerando uma média de R$ 5,00 por litro (que é um valor rebaixado e só aparece em algumas promoções), duas caixas com 24 litros chegariam a R$ 120,00 no mês, cerca de 10% do salário mínimo nacional, que está em R$ 1.212,00.

“Não pode comprometer mais de 10% do salário com leite”, explica o presidente da Agas (Associação Gaúcha de Supermercados).
Uma comparação é acionada pelo supermercadista quase no automático, para dar ideia de que a condição do mercado do lácteo “saiu da curva”:
“O leite ultrapassou o preço do refrigerante!” (lembrando que a bebida costuma ser vendida com volume acima de dois litros)
Falando em cesta básica, a pesquisa do Dieese em Porto Alegre mostrou que, em maio, o alimento subiu 3,52%. No ano, a disparada acumulada chega a 31,05% e, em 12 meses, a 33,87%. Ou seja, a fervura no preço é um fenômeno deste ano.
Outro detalhe, trazido pela economista do Dieese no Rio Grande do Sul Daniela Sandi: enquanto as famílias sentem esse nível de alta, o preço ao produtor (leiteiro) teve elevação de 21% no mesmo período. (fonte Cepea/Esalq)
Daniela Sander cita ainda: “a elevação do preço do leite em 12 meses é quase três vezes a inflação do período (11,90%), pelo INPC/IBGE. Mas no ano, a alta é seis vezes o INPC acumulado (4,96%)”. Lembrando: o INPC é o balizador das negociações de reajustes salariais. Ou seja, na reposição de custos, trabalhadores com carteira assinada terão de repensar a sua cesta básica.
Disparada do litro é reflexo dos custos dos insumos
Um detalhe também chama a atenção. Encartes impressos de promoções de atacarejos não trazem o longa vida. Ou seja, não deve estar fácil ou viável fazer preço mais baixo e atraente com leite, em um modelo de negócio que depende de descontos polpudos.
O valor do leite longa vida no nível praticado agora está gerando uma relação desproporcional.
Por exemplo: a mussarela, que sempre tem valor muito acima (três a quatro vezes mais), tem tido alteração de preço em lojas. O quilo que antes era encontrado a um valor R$40, hoje está chegando a aproximadamente R$47 e deve aumentar ainda mais.
O empresário, Pablo de Souza Arguilheira, que trabalha no ramo de frios e laticínios, explica que o valor da mussarela, que é derivada do leite, foi um dos produtos com maior alta, “ A mussarela é o produto principal das pizzarias, lanchonetes e para que esse valor não chegue alto na casa do consumidor, muitos empresários estão adquirindo produtos genéricos, que tem o menor preço, porém não tem a mesma qualidade”, lamenta.
Pablo associa o aumento do preço do leite à elevação de custos dos insumos, para a alimentação das vacas, e a questão de combustíveis e frete.